Às vezes acho que temos o dom de tornar piadas medíocres em marcos humorísticos. Um caso documentado que exemplefica bem este fenómeno é das "afalfadelas". Não, não me enganei - são mesmo "afalfadelas".
Por alturas do final do semestre passado tivemos que fazer um trabalho para a cadeira de Microbiologia Molecular (MicMol para os amigos). Muito resumidamente, tratava-se de pegar nos resultados de todas as experiências que tinhamos feito ao longo do semestre e escrevê-las como um artigo científico. Trabalhei com o Rocha, o Caiado, o Helder e o Firmino (que quer à força passar a ser conhecido como Maldoror). O trabalho demorou uma semana e tinha um horário estricto: a cada duas ou três horas de trabalho havia uma pausa para fazer qualquer parvoíce à escolha. Muitas vezes essa parvoíce foi ver um Reality Show que passava na Sic Radical, em que os concorrentes eram ex-militares e ex-polícias e que tentavam à força fazer-nos acreditar que estavam a passar por momentos difíceis naquelas "missões" e que o espírito de grupo ganhava sempre. De salientar o entusiasmo e a garra com que o Helder vivia cada momento e defendia o seu SWAT perferido.
O segundo maior tipo de parvoíce era ver uma dúzia de sketches do Gato Fedorento. Nós gostamos mesmo do Gato Fedorento. Tem piada sim senhor, mesmo tendo os senhores tomado conta de tudo o que seja talkshow, comentários de jornal ou revista e prémios "pessoa jovem com talento e humor que eu não entendo bem mas que mesmo assim vou premear". Se formos objectivos na coisa e olharmos para o universo Batanete em que Portugal se insere, os senhores do Gato são do melhor.
Mas até os mestres têm o direito à sua falha, especialmente se são novatos como estes são. Um sketch que fica muito àquem dos melhores (e deste lote excluo a merda do sketch do "falam falam falam", que se tornou no novo "novidades, novidades só no continente" e que já me começa a chegar aos nervos de tão repetido que é) é o sketch das "afalfadelas". Para quem não viu o skecth, trata-se de um senhor que está na neve e que supostamente a está a ver pela primeira vez. O entrevistador pergunta-lhe se está a gostar, ele diz que não consegue ver neve porque tem um "problema na vista... é invisual". Depois o entrevistador pergunta-lhe o que pode fazer para compensar tamanha falha e ele diz, repetidas vezes, que só quer "mulheres roliças" e "afalfa-las" (para quem ainda não percebeu, ele quer dizer "apalpa-las") e "beija-las". E assim acaba o sketch.
O sketch é seco. Não é uma obra prima da inteligência humoristica. Mas quando se tem em cima várias horas de proteínas membranares, fagos, bactérias e professores que riem tresloucadamente, isto tem muita piada. È que rimos que nem pessoas doentes, que nem veteranos do Ultramar em pleno ataque de "sindroma do Golfo" (?). Rimos e repetimos, repetimos, repetimos. Repetimos em frente a toda a gente, de tal forma que a certa altura todos queriam ver o sketch das "afalfadelas".
E assim o monstro foi criado. E assim, quando descobrimos que existia um virus chamado "Alfalfa Virus", estendeu-se uma manta de risos sobre o anfiteatro, mesmo sobre pessoas que nunca nos tinham ouvido falar disso, nem nunca tinham visto o sketch.
E rimos muito.